novembro 08, 2011

Mama, Mama!

Um dia desses, voltando da universidade, vi um menininho. Ele devia ter entre 7 e 9 anos de idade. Sua mãe estava ao seu lado, e eles estavam bem atrás da cabine do condutor. Aqui no Japão, normalmente é possível ver o maquinista de dentro do vagão: há uma espécie de janelinha de vidro entre sua cabine e o resto dos passageiros. Dali, o menino podia ouvir o maquinista e vê-lo trabalhar. 

"Mama, mama! Quero ser maquinista!", ele dizia para sua mãe. Ela apenas sorria modestamente, sem tirar os olhos da janela do trem. Estava ali, mas a mente estava longe. Em que pensava, será, que era mais importante que aquele pequenino sonhador ali do seu lado? A cada estação que passava, o menino repetia todos os anúncios que o co-piloto dava, e falava junto com o maquinista o "yoshi!" (que os condutores sempre falam após checar todos os instrumentos e dar partida na composição).

"Mama! Chegamos em Ooimachi! Foi super rápido, né, vindo de Hatanodai? E, olha lá! O trem do outro lado, na plataforma de embarque  número 2 (!), é o trem expresso com destino a Mizonokuchi!", ele contava, excitado, para sua mãe após chegarem na parada final. Ela apenas sorriu para ele e o puxou pela mão para que pudessem sair correndo após a abertura das portas.

Não os vi mais. Mas pude ouvir, no meio dos barulhos aleatórios da estação, sua voz empolgada falando o quão bonitos eram os faróis do trem.

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Quando eu era pequeno, eu também adorava trens. De acordo com meu (já falecido) avô, eu costumava dizer que queria ser um "borracheiro de trem". Por quê? Não faço idéia. Eu adorava passear de metrô, eles pareciam mágica! E eu, possivelmente, admirava o trabalho dos borracheiros: aqueles senhores encardidos todos cobertos com graxa dos pés à cabeça. Meu avô foi mecânico. E eu realmente o admirava, e queria ser como ele quando crescesse; mas também adorava trens! Então, a solução era ser um borracheiro que trabalhasse com trens! Claro, trens não têm pneus. Eu não sabia disso na época mas, acho que mesmo que soubesse, não me importaria. Ainda iria querer ser borracheiro do metrô.

Quando somos crianças, não temos preconceitos: tudo é maravilhoso e incrível, e cada profissão é especial do seu jeito. Não existe bom ou ruim; não existe o sonho de ser rico, de ter status. Apenas fazemos aquilo que nos encanta. Eu nunca quis ser um médico ou advogado quando era criança. Depois de um tempo, acabei tendo que desistir da idéia de ser borracheiro do metrô, e sonhava em ser prefeito de São Paulo! Ao menos era esse meu objetivo no 4o ano do ensino fundamental. Não faço idéia do porquê, mas eu era uma criança bem política. Lembro de dirigir minha pequena bicicletinha azul com a bandeira de um político local (Maluf!). E lembro de desenhar um plano para limpar o Rio Tietê em um trabalho sobre o que eu seria quando crescesse.

Crianças são seres maravilhosos. Você nunca sabe o que elas aprontarão, o que se tornarão. Mas eles são verdadeiramente os únicos humanos que conseguem ser genuinamente felizes. Deveriamos aprender com elas; aprender a recuperar aquele sentimento de maravilhamento por tudo; aprender a se sentir impressionado pelo foco do condutor do trem. Aprender a ficar maravilhado com o quão rápido chegamos nos lugares quando pegamos aquelas caixas de metal que se movem sobre trilhos. Deveríamos aprender com eles como viver cada momento como um momento novo e único.

"Yoshi!"

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