Buda?

"Punna, encha-se de boas qualidades,
como a Lua do décimo-quinto dia.
Com discernimento em seu esplendor,
     rompa
     a massa
     da escuridão." 
(Buda) [1]

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Quando falamos em "Buda" (que significa "iluminado"), normalmente nos referimos ao monge indiano Sidarta Gautama (सिद्धार्थ गौतम, Siddhāttha Gotama, em Páli - língua original de seus ensinamentos). Sidarta (463 - 383 a.C.) nasceu em Lumbini, atual Nepal, e ensinou por toda a Índia. Príncipe do reino dos Shakyas, ele teve acesso à melhor educação que se poderia ter à época, o que acabou posteriormente influenciando seus ensinamentos. Resolveu abandonar a vida palaciana motivado pela busca do fim do sofrimento: assim como o grande sábio Salomão, na tradição Judaico-Cristã, Sidarta não via sentido em viver uma vida de prazeres e, mesmo assim, estar sujeito ao sofrimento. "Por que é que, mesmo tendo tudo, sofremos?" era provavelmente a pergunta que martelava em sua mente quando ele decidiu abandonar o palácio, sua esposa e seu filho Rahula, ainda bebê.

Após praticar extensivamente com monges ascetas, ele encontrou suas respostas; e percebeu que elas não estão nem na renúncia total dos prazeres, e nem na entrega total a eles. O budismo, sistema de práticas estabelecido por ele e seus discípulos, é também conhecido, por isso, como "O Caminho do Meio".

Buda ensinou por mais de 40 anos e teve, diz-se, cerca de 1000 discípulos. Ora, é natural esperar então que várias tradições diferentes surgissem, e foi o que aconteceu. Nesses 2500 anos de história, várias escolas de pensamento surgiram baseadas nos ensinamentos do Buda Shakyamuni (como ele ficou conhecido. Shakyamuni significa "o sábio dos Shakyas".) e, como consequencia, diversos tipos de budismo floresceram ao redor da Ásia.

Todo ensino de Buda baseia-se nas chamadas "Quatro Nobres Verdades":
  1. O sofrimento[2] existe;
  2. O sofrimento surge do apego aos desejos;
  3. O sofrimento termina quando se elimina o apego aos desejos;
  4. A liberdade do sofrimento é possível ao praticar o Nobre Caminho Óctuplo.

O Nobre Caminho Óctuplo, por sua vez, consiste de uma prescrição de 8 práticas constantes que pertencem a três esferas de aperfeiçoamento: sabedoria (pañña), ética (sīla) e concentração (samādhi). São eles[3]:
  1. Visão adequada
  2. Intenção adequada
  3. Fala adequada
  4. Atitude adequada
  5. Modo de vida adequado
  6. Esforço adequado
  7. Contemplação[4] adequada
  8. Concentração adequada

A figura abaixo[5] ilustra o Nobre Caminho Óctuplo:

O caminho ensinado por Buda é bem prático e aplicável no dia-a-dia, a qualquer tempo. Todos os seus ensinamentos basearam-se nas Nobre Verdades, e tentaram explicá-las. Talvez o ponto que mais crie diferenças entre as escolas budistas é o primeiro passo do caminho óctuplo: a visão adequada. Existem as mais diversas opiniões sobre o que é a Realidade, e como devemos enxergá-la. Existe Deus? Existem espíritos? Existe vida após a morte? O que é a vida e o que é a morte?

Buda deu algumas respostas, mas deixou a maioria das coisas em aberto. Cada um tem a pré-disposição para acreditar em alguma coisa, e impôr um pensamento só acaba trazendo mais sofrimento. O caminho de Buda foi feito para todos os seres, independente das suas crenças metafísicas.

Talvez por isso tenha existido por tanto tempo.


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Referências e notas:
[1] Thanissaro Bikkhu. "Versos das Monjas Anciãs" [Therīgāthāpāḷi], Capítulo 1, verso 3. Em: "A Coleção de Pequenos Textos" [Khuddakanikāye]. Disponível neste link.
[2] Dukkha, em Páli. O termo "kha" referia-se, na época do Buda, ao orifício onde ficava o eixo das carroças. "Dus" é um prefixo que indica "ruim". Dessa forma, "Dukkha" pode ser interpretado como um desequilíbrio do eixo de uma carroça; algo que - como se imagina - traz um enorme desconforto. Dukkha está relacionado a um desconforto, inquietude, insatisfação etc. Normalmente, nos meios budistas, evita-se traduzir "dukkha", para que seja mantido toda a amplitude do significado do termo. Este link apresenta uma discussão interessante a respeito.
[3] A palavra repetida nos itens do Caminho Óctuplo é samma, em Páli. Algumas traduções trazem "correto" ao invés de adequado; mas não penso que essa terminologia seja apropriada.
[4] Sati em Páli. Pode ser traduzido como plena atenção, ou 'mentação', ou meditação. Em inglês, é normalmente traduzido como mindfulness. Acho que "contemplação" é o termo mais apropriado em português. Quando o budismo foi levado para a China, esse termo foi adaptado no ideograma 念 (nian), uma combinação interessante dos ideogramas de "agora" 今 e "mente" 心. Ou seja, 念 representa a mente presente no agora.
[5] Fonte: FudoMouth.