outubro 26, 2013

Tremor



"Ananda, há oito razões, oito causas para o surgimento de um grande terremoto. Esta grande terra está estabelecida na água, a água no vento, o vento no espaço. E quando um vento forte sopra, este agita a água e devido à agitação da água a terra treme. Essa é a primeira razão.
Em segundo lugar há algum contemplativo ou Brâmane que desenvolveu poderes supra-humanos ou um deva forte e poderoso cuja consciência terra está pouco desenvolvida e a sua consciência água é imensurável, e ele faz com que a terra se sacuda e se agite, e trema violentamente. Essa é a segunda razão.
Outra vez, quando um Bodisatva plenamente atento e plenamente consciente, falece no paraíso de Tusita e descende no ventre da sua mãe, então a terra se sacode e se agita, e treme violentamente. Essa é a terceira razão.
Outra vez, quando um Bodisatva plenamente atento e plenamente consciente, emerge do ventre da sua mãe, então a terra se sacode e se agita, e treme violentamente. Essa é a quarta razão.
Outra vez, quando o Tathagata realiza a perfeita iluminação, então a terra se sacode e se agita, e treme violentamente. Essa é a quinta razão.
Outra vez, quando o Tathagata coloca em movimento a Roda do Dhamma, então a terra se sacode e se agita, e treme violentamente. Essa é a sexta razão.
Outra vez, quando o Tathagata, plenamente atento e plenamente consciente, renuncia à sua formação vital, então a terra se sacode e se agita, e treme violentamente. Essa é a sétima razão.
Outra vez, quando o Tathagata realiza o parinibbana, então a terra se sacode e se agita, e treme violentamente. Essa é a oitava razão.
Essas, Ananda, são as oito razões, as oito causas para o surgimento de um grande terremoto." (Buddha)[1] 

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Ontem, pela primeira vez em três anos de Japão, fui surpreendido no meio do zazen por um terremoto. Foi uma experiência no minimo curiosa. Segundo os antigos textos budistas, existem oito interpretações pra um terremoto, a maioria delas associadas a experiências únicas de um Buddha ou um grande sábio. Se analisarmos por essa linha, o Japão está cheio de Buddhas!

Ultimamente a terra tem estado bem calma por aqui: um cenário completamente diferente de quando cheguei, em 2011, em que todos os dias - literalmente - havia pelo menos um aftershock do grande terremoto de 11 de março. Creio que esse de ontem foi o primeiro terremoto sensível aqui em pelo menos 20 dias. Além desse, só consigo me lembrar de mais dois terremotos nos últimos meses. Em termos práticos, essa periodicidade é uma coisa boa, pois significa que as placas tectônicas estão liberando sua energia pouco a pouco, o que evita o acúmulo e a súbita liberação de energia em um deslizamento de maiores proporções, como o ocorrido naquele episódio de 2011.

Sempre me perguntam como é um terremoto, e se eu não tenho medo. O primeiro terremoto que experimentei, no dia 7 de abril de 2011 - quase 1 mês após o grande tremor - foi terrível e assustador. Especialmente porque aconteceu de noite; e acordar com o quarto chacoalhando e as coisas tremendo ao seu redor não é um dos jeitos mais sutis de despertar. Outro terremoto, e o mais forte, de que me lembro particularmente ocorreu durante uma das missões de voluntariado a Tohoku. Não sei exatamente onde e nem qual foi a magnitude (me lembro que a sensação foi de Shindo 5 baixo, na escala Japonesa de 1 a 7), mas foi definitivamente o mais assustador e ocorreu - novamente - no meio da noite. Naquela noite em particular, eu havia me separado do grupo pois não conseguia dormir devido ao incenso anti-mosquito que haviam acendido no nosso quarto. Eu estava, então, sozinho, no meio de uma quadra de basquete rodeada de janelões de madeira e vidro. Acho que, mais do que o tremor em si, foi o barulho que mais assustou.

Estar em zazen durante o terremoto foi uma experiência interessante, pois permitiu observar mais claramente como a mente responde a um evento inesperado como esse (aliás, diga-se de passagem, foi um combo raro: o terremoto veio durante a passagem de um tufão por aqui). Após a óbvia sensação de surpresa, vem um checklist mental de todas as coisas que podem acontecer, os lugares para onde correr, e o que é necessário pegar. Após esse pseudo-pânico inicial, vem a racionalidade interpretar a magnitude do terremoto e avaliar a periculosidade. E tudo isso ocorre em frações de segundos! É impressionante a eficiência do nosso cérebro. Passado essas partes importantes, a mente (a minha, pelo menos) começa a fantasiar os possíveis cenários pós-terremotos (e se a casa cair? E se minha janela quebrar e a chuva começar a entrar? etc.) e a conjecturar onde teria sido o epicentro e o que pode ter acontecido em outros lugares. E tudo isso nos breves instantes do tremor. É possível resumir a ação da mente em:

1. Sensação (i.e. meu corpo se comporta de maneira diferente);
2. Percepção (i.e. tem algo diferente acontecendo);
3. Conceituação (i.e. isso é um terremoto);
4. Conscientização (i.e. o terremoto pode ser perigoso);
5. Racionalização (i.e. toda a cadeia de pensamentos que, com base em experiências anteriores, analisa o fenômeno e lista as possíveis respostas a ele);

6. Ação (i.e. as respostas mentais - medo, apreensao, etc. - e físicas - correr para debaixo da mesa, etc.)

No meu caso, como eu já havia experienciado terremotos antes e conheço os procedimentos de segurança a serem tomados, pude rapidamente avaliar que esse não era um tremor perigoso, relaxar e curtir a terra me balançar o quanto quisesse. Contudo, imagino que quem nunca experimentou um terremoto antes iria sentir um desespero enorme, e - devido à falta de parâmetros mentais - não conseguiria realizar as etapas 4 e 5 de forma apropriada, gerando medo, apreensão e sofrimento para si; não pelo evento em si, mas pelo despreparo psicológico.

Esse raciocínio pode ser estendido para outros fenômenos e outras experiências, e explica bem nosso desconforto frente a situações novas: na falta de paradigmas mentais, nossa mente recorre às experiências e informações mais próximas (no seu próprio entender) àquele fenômeno que experimentamos, e extrapola a interpretação para aquele momento. Por exemplo, no caso do terremoto, alguém que nunca sentiu a terra tremer antes pode recordar-se dos vários eventos catastróficos que viu na televisão e trazer para o momento presente as expectativas terríveis que foram testemunhadas naqueles eventos, e - obviamente - terá uma reação nada condizente com a realidade. De maneira análoga, se vamos a um país diferente e vemos alguém se comportando de uma maneira que, em nossa cultura, associamos a uma pessoa violenta, nossa mente automaticamente julgará aquela pessoa como perigosa e trará para o momento presente sentimentos de medo, apreensão e insegurança, que possivelmente não têm a menor razão de existir. O Buddha descreve isso como a "ignorância", ou seja, o "não conhecer" da realidade tal como ela é; e discute que é essa ignorância que, em última instância, leva ao sofrimento ou ao desconforto. O fim do sofrimento depende, portanto da eliminação da ignorância, através do desenvolvimento de uma visão clara da realidade; dependente apenas da experiência em si, livre dos filtros mentais que podem, muitas vezes, ser inapropriados para lidar com aquela experiência em particular. E, pra isso, é preciso conhecer como a mente funciona, e como nos entrinchamos em nossos próprios conceitos, alheios à realidade, sem nem perceber. E é exatamente esse o propósito sem propósito do zazen.

Enfim, ao contrário da descrição do Buddha no cânon, apesar do terremoto de ontem e da incrível experiência associada a ele, não creio que atingi a iluminação suprema, mas pelo menos aprendi um pouquinho mais na prática sobre o Dharma. :)



(P.S. O terremoto de ontem foi M7.1, no meio do mar, e ocasionou pequenas tsunamis de, no máximo, 10 cm. Ninguém se machucou e não houve nenhum agravamento da situação em Fukushima, apesar de o epicentro ter sido próximo à usina.)

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[1] Em: O Grande Discurso do Paranibbana (Mahaparanibbana Sutta), Digha Nikaya, v. 16, c.3, vv13-20. Disponível aqui: http://www.acessoaoinsight.net/sutta/DN16.php

outubro 03, 2012

O Bárbaro de Olhos-Azuis


Num lugar sem direções; numa superfície sem fronteiras
Como pode existir algo maior que um fio de cabelo no Outono? (1)
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No dia 5 de Outubro celebramos - dentro da escola Soto da tradição Zen budista - o dia de Bodhidharma. Mas quem foi esse monge, para merecer um dia especial?

Bodhidharma (बोधिधर्म em sânscrito; 菩提達摩 em Chinês [Pútídámó] e Japonês [Bodaidaruma]) foi um monge indiano que viveu por volta do século V. Discípulo de Prajnatara, Bodhidharma é tido como o 28º patriarca do Zen budismo. Segundo os relatos dos mestres Dàoyuán e Keizan, Bodhidharma nasceu no reino de Kanchipuram, ao sul da Índia, em uma família da casta de guerreiros (Kshatriya) e tinha outros dois irmãos.

Certa ocasião, o venerável mestre Prajnatara resolveu testar a sabedoria dos três irmãos. Tomando uma joia que lhe havia sido ofertada por Bodhidharma, perguntou: "Há algo que se compare a essa jóia?" Os dois irmãos lhe responderam: "Essa joia é o mais precioso dos sete tesouros, e nada pode ultrapassá-la. Ninguém sem o poder do Venerável mestre Prajnatara poderia recebê-la." Bodhidharma (que então se chamava Bodhitara), por sua vez, lhe respondeu: 
"Esse é um tesouro mundano, e não se qualifica como o mais precioso dos tesouros. Eu considero o tesouro do Darma o melhor dos tesouros. A luz dessa joia é uma luz mundana, e não se qualifica como a mais preciosa das luzes. Eu considero a luz da sabedoria como a mais preciosa. O brilho dessa joia é meramente mundano, e não se qualifica como o brilho mais precioso. Eu considero o brilho da mente como o mais precioso dos brilhos. A luz resplandecente dessa joia não pode iluminar nada além de si mesma, mas precisa da luz da sabedoria para ser discernida. Uma vez que ela seja compreendida extensivamente, sabe-se que trata-se de uma joia; uma vez que se sabe que é uma joia, clarifica-se o fato de que ela é preciosa. Clarificando o fato de que ela é preciosa, sua preciosidade não é por si mesma preciosa. Quando se discerne a joia, a joia não é por si mesma joia. O fato de a joia não ser uma joia o é porque é necessário usar a joia da sabedoria para discernir a joia mundana. O fato de a preciosidade não ser preciosa o é porque é necessário usar o tesouro da sabedoria para clarificar o tesouro do Darma. Como o caminho do mestre é o tesouro da sabedoria, o senhor agora experiencia este tesouro mundano. Então, quando o mestre possui o Darma, esse tesouro aparece; e quando os seres possuem o Darma, esse tesouro aparece. Quando os seres têm o Darma, o tesouro da Mente também aparece."

Ao ouvir essa explicação, o mestre Prajnatara sabia que um sábio estava ali diante de si. Ele entendeu que Bodhitara seria seu herdeiro do Darma, mas esperou que as condições amadurecessem. Então, em outra ocasião, lhe perguntou: "o que, dentre todas as coisas, é sem forma?" (2) Bodhitara respondeu: "Não-surgimento é sem forma." Prajnatara interpelou: "Qual, dentre todas as coisas, é a maior?" Bodhitara respondeu: "A verdadeira natureza das coisas é a maior." (3)

Após sua ordenação monástica, Bodhitara permaneceu por sete dias em meditação no salão de Prajnatara, que lhe instruiu extensivamente aos princípios do zazen. O mestre ouviu e despertou à suprema sabedoria. Prajnatara então lhe disse: "Você agora já descobriu tudo que é necessário saber sobre as coisas. 'Dharma' significa 'grandeza da compreensão', então você agora se chamará 'Dharma'." E, assim, ele mudou seu nome para Bodhidharma.

Prajnatara pediu a Bodhidharma que partisse para a China e espalhasse o verdadeiro Darma por lá, sessenta e sete anos depois que seu mestre falecesse. Bodhidharma lhe perguntou: "Eles serão capazes de tornarem-se grandes receptáculos do Darma? Surgirão dificuldades ao longo do tempo?" Prajnatara lhe disse: "Serão muitos os que despertarão naquela terra. Algumas pequenas dificuldades podem surgir, mas você será capaz de lidar com elas. Quando chegar lá, não fique no Sul. Eles apenas valorizam o trabalho mundano ali, e não enxergam os verdadeiros princípios dos budas."

Sessenta e um anos após a morte de Prajnatara, Bodhidharma partiu para a China, pelo mar, desembarcando onde hoje é Guangzhou em algum momento da dinastia Liu-Song (~ 479 d.C.). Era uma China dividida pela rivalidade étnica, domínios feudais, e uma guerra civil prolongada entre o norte e o sul do país. Nos séculos antes de sua chegada, a China viveu conflitos, desintegração e caos. Aqueles que abraçaram o ensino de Bodhidharma aguentaram e sofreram ainda mais. Eles já conheciam o Budismo por vários séculos antes de Bodhidharma aparecer por lá; contudo, seu Zen (Ch'an) tocou a imaginação de um povo cansado do mundo. Governantes, aristocratas e cidadãos comuns eventualmente abraçaram as práticas religiosas ligadas a ele. Os ensinamentos de um sramana solitário que desembarcou por uma prancha de madeira em Guangzhou num país caótico, eventualmente o conquistaram, e se espalharam muito além de suas bordas.

Segundo Dàoxuān (4):
"Bodhidharma foi um Bramã do Sul da Índia. Sua sabedoria espiritual era expansiva. Todos que o ouviam tornavam-se iluminados. Ele era devoto da prática Mahayana da mente profunda e solitária, e atingiu elevada compreensão de todos os aspectos da meditação. Graças à sua compaixão por essa terra [China], ele propagou os ensinamentos Yogacara. Chegou inicialmente no Sul da China durante a dinastia Liu-Song. No fim de sua vida, viajou novamente para viver sob o governo Wei (a dinastia que governava o norte do país). Onde quer que ele fosse, ensinava o Zen. Durante seu tempo, ensinou por todo o país. Após ouvir pela primeira vez os ensinamentos de samadhi [meditação], muitos se revoltaram contra ele. Porém, houveram dois monges, chamados Dàoyù (道育) e Huìkě (慧可), que tornaram-se seus discípulos. (...) Bodhidharma reconheceu a sinceridade deles, e lhes ensinou o verdadeiro Darma, como a pacificação da mente através da meditação enquanto mirando uma parede (5); como a filosofia conhecida como as "Quatro Práticas" (6); como a liberação dos seres em face ao criticismo; e como não usar demônios para assustar as pessoas como um método de exortação. Bodhidharma disse: "Há muitas portas para penetrar o Caminho, mas todas convergem em essencialmente duas: entrar pelos princípios, ou entrar pela prática. O primeiro caso resume-se em aceitar a doutrina iluminada de que todos os seres possuem a mesma natureza verdadeira, que é obstruída de nossa visão pelos apegos mundanos. Essa doutrina nos leva a esquecer o falso e retornar ao verdadeiro quando sentamos frente a uma parede, onde não há si mesmo e nem o outro; e onde sagrado e mundano são o mesmo; resolutos e imóveis, não perseguindo quaisquer ensinamentos externos, permanecendo solitariamente em não-ação de acordo com o misterioso Caminho. Isso é o chamado 'entrando no caminho pelo princípio.' Entrar o caminho pela prática envolve quatro práticas essenciais derivadas dos dez mil darmas (...) [As "Quatro Práticas" são resumidas, e podem ser expressas em (i) aceitar as condições; (ii) dedicar-se à prática com as condições encontradas; (iii) procurar nada mais do que isso, e (iv) aderir aos ensinamentos budistas.]" Bodhidharma, com esses métodos, converteu o povo de Wei. Os nobres que reconheceram a verdade o honraram, e conheceram a Iluminação. Registros de seus ensinos agora circulam pelo mundo. Ele pessoalmente dizia ter 150 anos de idade. Sua missão era viajar e ensinar. Não se sabe onde ele faleceu."

Bodhidharma tomou para si uma missão digna de um bodhisattva. O budismo, tal como existia na China à época, começava a mesclar-se com o controle imperial. O imperador Wu - contemporâneo de Bodhidharma - tornara-se um praticante budista fervoroso, construindo diversos templos espalhados pelo país e - por vezes - abandonando seu próprio palácio para viver uma vida ascética em meio aos demais monges. Uma atitude louvável; porém, por trás dessa inocente dedicação, estava a aspiração do governo em colocar sob sua jurisdição a única classe que, até então, estava livre de dobrar-se aos pés do imperador: o clero. O imperador Wu, astutamente, conseguiu estabelecer uma rede de influência imperial sobre os monastérios budistas (através de um "ministério monástico", com suas diretrizes, regras e patrocínio governamental) e colocar-se como figura central acima dos demais monges do país. Bodhidharma, em contrapartida, não admitia a submissão da prática budista a um imperador e instruiu veementemente seus discípulos para longe de quaisquer influências da casa imperial. Bodhidharma era, portanto, visto como um rebelde pela côrte que, apesar disso, ainda o tinha em alta estima. Sua coragem, determinação e dedicação permitiram que o espírito do Zen fosse re-introduzido livre de demais influências políticas à China. Devido à sua preocupação com a independência budista, Bodhidharma e seus discípulos sofreram perseguição pelas escolas imperiais durante um bom tempo, além de viverem sob críticas sobre seus comportamentos: como não recebiam ajuda imperial, os discípulos de Bodhidharma tinham que criar seus próprios meios de sobrevivência, através de atividades como cultivo de alimentos - o que era proibido pelo código de conduta monástico à época. 

A importância de Bodhidharma - não apenas para o Zen, mas para o imaginário coletivo Chinês - é inigualável. 

Segue um trecho dos comentários do mestre Keizan (7) a respeito desse grande monge:

Portanto, vocês devem entender que este exemplo do Bodhidharma mostra que atingindo o reino [de sabedoria ilimitada] através de um cuidadoso discernimento, vocês irão entender na mesma hora o que buda e os demais patriarcas experimentaram, e clarificarão o que os antigos budas já verificaram; e tornar-se-ão descendentes de todos os budas e patriarcas. Ainda que ele aparentemente possuísse apenas uma sabedoria natural, ele soube despertar para suprema sabedoria do Darma. Posteriormente, Bodhidharma tomou todo cuidado para guardar e proteger o Darma no futuro. Ele serviu ao lado de seu mestre e investigou extensivamente e em detalhes. Passou sessenta anos sem esquecer a predição sobre seu futuro e, depois, mais três anos cruzando o oceano. Por fim, chegou em uma terra desconhecida. Durante seus nove anos de zazen (8), adquiriu grande capacidade e, pela primeira vez, espalhou o verdadeiro Darma do Tathagata na China, quitando seus débitos para com seu mestre. Suas dificuldades foram as maiores; suas austeridades, as mais severas.
Contudo, estudantes nesses dias de hoje ainda esperam que seja fácil, apesar da degeneração dos tempos e de fracas capacidades. Sinto que pessoas assim - que dizem que entenderam o que não entenderam; que são arrogantes e orgulhosos - deveriam retirar-se (9). Caros, se vocês penetrarem extensivamente nessa estória, entenderem sua imponência cada vez mais, esmagarem a mente e abandonarem o corpo; e compreenderem intimamente o Darma, vocês terão a ajuda secreta dos budas e compartilharão diretamente daquilo que todos os velhos patriarcas provaram. Não pensem que uma fatia de conhecimento ou metade de uma compreensão são suficientes.

Bodhidharma, antes de falecer, transmitiu o Darma a quatro discípulos, num episódio conhecido como pele, carne, ossos e medula (10):
Bodhidharma perguntou, "Será que cada um de vocês poderia me demonstrar seu entendimento?"
Dàofú (道孚) foi à frente e disse: "Não está preso a palavras e frases; nem é separado de palavras e frases. Essa é a função do Darma."
Bodhidharma: "Você atingiu minha pele."
A monja Zōngzhǐ (宗旨) levantou-se e disse: "É como a visão gloriosa do Buda Akshobhya. Uma vez visto, não é necessário vê-lo novamente."
Bodhidharma: "Você atingiu minha carne."
Dàoyù (道育) disse, "Os quatro elementos são todos vazios. Os cinco skandhas não têm uma existência real. Nem um único dharma pode ser apreendido."
Bodhidharma: "Você atingiu meus ossos."
Finalmente, Huìkě (慧可) foi à frente, prostrou-se profundamente em silêncio e permaneceu de pé, em riste.
Bodhidharma disse: "Você atingiu minha medula."

Na tradição do Zen, consideramos os patriarcas da linhagem continuada por Huìkě; porém - como enfatizado pelo mestre Dōgen - todos os discípulos de Bodhidharma atingiram entendimento completo.

Para terminar, deixo uns versos atribuídos ao próprio Bodhidharma (11):

不立文學 (bù lì wénxué)
教外別傳 (jiāo wài bié zhuàn)
直指人心 (zhí zhǐ rénxīn)
見性成佛 (jiàn xìng chéng fú)

Não fundamentada em palavras,
Uma transmissão especial além das escrituras
Aponta diretamente à sua mente.
Observe sua própria natureza e torne-se Buda.

Que possamos todos nos aprofundar na prática de Bodhidharma, e investigar profundamente nossa própria natureza, para o benefício de todos os seres.

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(1) 「更無方所無邊表。豈有秋毫大者麼。」Verso do mestre Keizan. In: (7)
(2) 「無相」(musou), sem forma. Ou, em sânscrito, animitta. O termo em sânscrito é normalmente traduzido como sem marcas ou sem sinal, significando que as coisas não são percebidas pelo sábio como tendo características intrínsecas (alto, baixo; grande, pequeno, etc.). Na resposta: 「不起無相」。
(3) 「法性」(hossei), lit. "Natureza do Darma". O original sânscrito é, provavelmente, dharmatta.
(4)  Dàoxuān (道宣, 596-667 d.C.) foi um monge Chinês. Ele compôs as Biografias Continuadas de Grandes Monges (續高僧傳 xù gāosēng zhuàn), uma coletânea de 30 volumes compilada em 645 d.C.
(5)「壁觀」 (bìguān [ch], hekigan [jp])
(6) 「二入四行」 (èrrù sìháng [ch], ninyuu shigyou [jp]), Duas Entradas e Quatro Práticas.
(7) Keizan, J. (Trad. Cook, F.D.) The record of transmitting the light. Chp. 28. Wisdom Publications, Boston, 2003. & 瑩山禅師(作)「伝光録」岩波文庫 (昭和二年)
(8) Segundo a lenda, Bodhidharma teria estabelecido-se em um eremitério (uma caverna) nas vizinhanças do templo Xiaolin, onde teria ficado em meditação durante nove anos. Nessa mitologia, ele teria ficado furioso por cair no sono ao tentar meditar, e resolvera arrancar suas pálpebras que - ao serem lançadas à terra - brotaram numa árvore de chá. Por isso, Bodhidharma também é tido por alguns como sendo um dos patronos do chá - usado pelos monges para manterem-se acordados durante os longos períodos de prática.
(9) Como os 500 arhats descritos no Sutra do Lótus.
(10) Segundo Dàoyuán (道原), em Os Registros da Transmissão da Lâmpada (景德传灯录, jǐngdé chuándēnglù), publicado em 1004 d.C. 
(11) In: Ferguson, A. Tracking Bodhidharma: a journey to the heart of Chinese culture. Counterpoint, Berkeley, 2012.

setembro 29, 2012

Oh, Lua!


Uma noite fria - sentado sozinho em minha cabana vazia
Cheia apenas com a fumaça do incenso.
Lá fora, um bambuzal de centenas de árvores;
Na cama, livros e mais livros de poesia.
A Lua brilha por cima da janela,
E toda a vizinhança está em silêncio, exceto pelo lamentar dos insetos
Ao olhar essa cena, emoção sem limites,
Mas nenhuma palavra. (Ryokan (7))

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Os dias de Lua cheia - como hoje - são dias especiais no calendário budista. Os principais eventos da vida do Buda Shakyamuni, por exemplo, são relatados como ocorrendo durante noites de Lua cheia: seu nascimento, sua saída do palácio para o caminho espiritual, sua iluminação e sua morte. Outra ocorrência notável da Lua no imaginário budista é como símbolo da percepção das coisas como elas são (Nirvana), como ilustra a figura do bhavachakra em um post anterior (1).

Enquanto o Sol nos oferece uma perspectiva de passagem de tempo mais curta e imediata, a observação do ciclo lunar nos serve de marcador de um período mais extenso de tempo. Refletindo as tradições da Índia védica pré-budista, Buda manteve a observação das Luas cheia e nova como períodos de prática intensificada, conhecido na tradição Theravada  (2) como Uposatha.

O Uposatha foi transmitido também através do Mahayana (2) e, ao passar pela China e chegar ao Japão, sofreu algumas mudanças substanciais. Segundo a lenda, os seguidores do buda Shakyamuni se ajuntariam durante os dias do Uposatha para meditarem juntos. Durante esses eventos, os discípulos leigos recebiam ensinamentos dos monges - que então recitavam as 227 regras de disciplina que eles receberam do Buda. Esse hábito evoluiu para uma cerimônia de confissão e arrependimento, durante a qual os monges e monjas confessavam suas violações e faziam votos de praticarem melhor no futuro. No Mahayana, a cerimônia mantém o espírito de confissão e arrependimento, porém a prática de fazê-lo para outros monges foi abolida.

Nas tradições do Zen Japonês (na escola Soto), a cerimônia é conhecida como 略布薩 (ryaku fusatsu). Ryaku significa abreviada, e fusatsu (uposatha) significa (3), mais ou menos, "continuar a boa prática" e "parar as más práticas" (4). As cerimônias variam em certa extensão entre os diferentes templos da escola, mas de forma geral seguem a seguinte estrutura (5):

1. Reconhecimento das más ações e confissão de arrependimento

 (懺悔文, Sange-ge, Gatha de Arrependimento)

我昔所造諸悪業(Ga-Shaku-Sho-Zou-Sho-Aku-Gou)
皆由無始貪瞋癡(Kai-Yuu-Mu-Shi-Ton-Jin-Chi)
従身語意之所生(Jyuu-Shin-Go-I-Shi-Sho-Shou)
一切我今皆懺悔(Issai-Ga-Kon-Kai-San-Ge) 

Ou, na versão Japonesa (6):

我れ昔より造る所のもろもろの悪業は
Ware mukashi yori tsukuru tokoro no moromoro no akugou wa
皆無始の貪瞋癡に由る、
Minna mushi no tonjinchi ni yoru
身語意より生ずる所なり、
Shingoi yori shouzuru tokoro nari
一切我今、みな懺悔したてまつる
Issai ware ima, mina sanke shitate matsuru.


Todas as minhas ações não-saudáveis cometidas
Por avareza, ódio e ilusão desde o começo sem começo
Oriundas do corpo, fala e mente
Eu agora reconheço



2. Reconhecimento e homenagem aos antepassados

Reverência aos sete budas antes de Buda
Reverência ao Buda Shakyamuni
Reverência ao Buda Maitreya
Reverência ao Bodhisattva Manjusri
Reverência ao Bodhisattva Samantabhadra
Reverência ao Bodhisattva Avalokitesvara
Reverência à sucessão de ancestres


3. Recitação dos votos do Bodhisattva

(四弘誓願, Shi-gu-sei-gan, Os quatro grandes votos do Bodhisattva)

衆生無辺誓願度(Shu-Jyou-Mu-Hen-Sei-Gan-Do)
煩悩無尽誓願断(Bon-Nou-Mu-Jin-Sei-Gan-Dan)
法門無量誓願学(Hou-Mon-Mu-Ryou-Sei-Gan-Gaku)
仏道無上誓願成(Butsu-Dou-Mu-Jou-Sei-Gan-Jyou)


Os seres são inumeráveis, faço voto de salvá-los
Os desejos são insaciáveis, faço voto de extinguí-los
Os portais do Dharma são ilimitados, faço voto de aprendê-los
O caminho de Buda é insuperável, faço voto de realizá-lo


4. Recitação do Refúgio na Jóia Tríplice

(三帰礼文, San-Ki-Rai-Mon, Versos do Tríplice Refúgio)

自帰依仏(Jii-Ki-E-Butsu)
当願衆生(Tou-Gan-Shu-Jyou)
体解大道(Tai-Ke-Dai-Dou)
発無上意(Hotsu-Mu-Jyou-I)

自帰依法(Jii-Ki-E-Hou)
当願衆生(Tou-Gan-Shu-Jyou)
深入経蔵(Jin-Nyuu-Kyou-Zou)
智慧如海(Chi-E-Nyou-Kai)

自帰依僧(Jii-Ki-E-Sou)
当願衆生(Tou-Gan-Shu-Jyou)
統理大衆(Tou-Ri-Dai-Shu)
一切無礙(Issai-Mu-Ge)


Eu tomo refúgio em Buda.
(Que todos os seres
Compreendam o grande caminho
E despertem)

Eu tomo refúgio no Dharma.
(Que todos os seres
Penetrem profundamente no oceano
Da sabedoria da Iluminação)

Eu tomo refúgio na Sangha.
(Que todos os seres
Carreguem harmonia ao mundo
E vivam sem obstáculos na mente)


5. Reafirmação dos 3 Preceitos Puros

(三聚浄戒, San-Jyu-Jyou-kai)

摂律儀戒 (Shou-Ri-Tsugi-Kai)
摂善法戒 (Shou-Zen-Bou-Kai)
摂衆生戒 (Shou-Shuu-Jyou-Kai)


Faço voto de evitar todo mal
(É a morada da lei de todos os Budas;
É a fonte da lei de todos os Budas)

Faço voto de esforçar-me para viver na Iluminação
(É o ensinamento do anuttara samyaksambodhi
e o caminho daquele que pratica e é praticado)

Faço voto de viver para o benefício de todos os seres
(É transcender profano e sagrado
e cruzar a si mesmo e aos próximos)



6. Reafirmação dos 10 Preceitos Graves

(十重禁戒, Jyuu-Jyuu-Kin-Kai)

不殺生戒 (Fu-Sesshou-Kai)
不偸盗戒 (Fu-Chuu-Tou-Kai)
不邪淫戒 (Fu-Jya-In-Kai)
不妄語戒 (Fu-Mou-Go-Kai)
不飲酒戒 (Fu-In-Shu-Kai)
不説過戒 (Fu-Sekka-Kai)
不自讚毀他戒 (Fu-Ji-San-Ki-Ta-Kai)
不慳法財戒 (Fu-Ken-Bou-Zai-Kai)
不瞋恚戒 (Fu-Shin-I-Kai)
不謗三宝戒 (Fu-Bou-San-Bou-Kai)


Faço votos de não matar.
(Por não tirar vida, a semente da árvore de Buda cresce.
Transmita a vida de Buda, e não mate.)

Faço votos de não tomar o que não me é dado.
(O sujeito e os objetos são como são, dois porém um.
O portal da liberação permanece aberto.)

Faço votos de não fazer mau-uso da sexualidade.
(Deixe as três rodas do sujeito, objeto e ação serem puros.
Com nada a desejar, segue-se lado a lado com os Budas.)

Faço votos de não incorrer em discurso falso.
(A Roda do Dharma gira desde o princípio.
Não há nem excesso e nem falta.
O doce orvalho permeia a tudo e colhe a verdade.)

Faço votos de não ingerir intoxicantes.
(Originalmente puro, não macule. Isso é atenção plena.)

Faço votos de não caluniar.
(No Budhadharma, caminhe junto, aprecie junto, realize e perceba junto.
Não incorra em censura. Não incorra em conversa banal.
Não corrompa o caminho.)

Faço votos de não orgulhar-me às custas de outros.
(Budas e ancestres realizam o vasto céu e a grande Terra.
Quando eles manifestam o nobre corpo, não há dentro ou fora na vacuidade.
Quando eles manifestam o corpo do Dharma,
não há sequer um grão de terra no chão.)

Faço votos de não ser avarento.
(Uma frase, um verso - isso são dez mil coisas e centena de folhas;
Um Dharma, uma realização - isso são Budas e ancestres.
Poranto, desde o princípio, não há necessidade de mesquinhez.)

Faço votos de não cultivar maldade.
(Nem negativo, nem positivo, nem real ou irreal.
Há um oceano de nuvens iluminadas e um oceano de nuvens brilhantes.)

Faço votos de não denegrir os Três Tesouros.
(Expressar o Dharma com esse corpo é o principal.
A virtude retorna ao oceano da realidade.
É incomensurável; nós aceitamos com respeito e gratidão.)



7. Extensão de méritos

十方三世一切仏(Ji-Ho-San-Shi-I-Shi-Fu)
諸尊菩薩摩訶薩(Shi-Son-Bu-Sa-Mo-Ko-Sa)
摩訶般若波羅蜜(Mo-Ko-Ho-Jya-Ho-Ro-Mi)


(Portanto, nessa noite de Lua cheia,
Oferecemos o mérito do Caminho do Bodhisattva
Através de todos os mundos, à natureza não-nascida de todos os seres.)

Todos os Budas, em todo o espaço e tempo;
Todos os seres, Bodhisattvas e Mahasattvas;
Sabedoria além da Sabedoria
Mahaprajna Paramita.



A Lua cheia nos oferece um momento não apenas da beleza das coisas simples da vida, como também de reflexão de nosso comportamento. Quantas luas cheias você ainda terá chance de ver? O tempo passa - e às vezes passa mais depressa do que gostaríamos. O que você está deixando para o mundo? 

Encerro com mais um poema do grande monge poeta Ryōkan (7):

À noite, montanhas adentro, sento-me em zazen.
Os assuntos dos homens nunca chegam até aqui.
Na quietude, sento-me em uma almofada de frente à janela vazia.
O incenso já foi engolido pela noite sem fim;
E meu manto tornou-se um vestido de orvalho branco.
Sem conseguir dormir, caminho pelo jardim;
De repente, sobre o mais alto pico, desponta a Lua cheia. 




--
(1) Embora, note, isso não significa que a Lua em particular seja O símbolo da iluminação. Ao invés da Lua, poderia ser o Sol, uma árvore, ou qualquer outra coisa (ou nada).

(2) Theravada é uma das duas tradições budistas existentes. É particularmente presente no sudoeste asiático, e é tida como sendo a mais próxima das práticas observadas durante o tempo de Buda (ca. 500 a.C.). O Mahayana, outra corrente das principais tradições budistas, tem sua origem por volta do começo da era cristã. Dentro do Mahayana, encontram-se as escolas Chinesas, Japonesas e Tibetanas.

(3) Os ideogramas 布薩 são apenas usados para fins de transliteração; e não têm significado. 布薩 é uma transliteração do sânscrito poṣadha que, por sua vez, é corruptela do Páli uposatha.

(5) Tomado como exemplo a ordem feita pelo San Francisco Zen Center. Os textos em parênteses, pequenos, correspondem às recitações feitas pelo oficiante da cerimônia.

(6) Os textos do Zen - em particular as gathas - têm normalmente duas versões de recitação: as que mantêm  a estrutura original Chinesa e o recitam com leitura Japonesa dos ideogramas; e a re-interpretação em gramática Japonesa. Ambos são oficialmente utilizados, e a escolha dentre eles depende de cada templo/oficiante. 

(7) Ryōkan Taigu (良寛大愚?) (1758–1831) foi um monge Zen budista da escola Soto. Ficou conhecido pelo seu comportamento excêntrico e pelo seu talento com poesia e caligrafia. Em: Stevens, John (Trad.). One Robe, One Bowl: The Zen Poetry of Ryōkan. Weatherhill, 2006.


julho 29, 2012

Os papéis das comunidades religiosas na sociedade: uma breve reflexão

Li recentemente uma postagem em um blog cristão intitulada: "Para o quê Deus nos chamou afinal?" A matéria chamava para uma releitura dos propósitos da comunidade cristã, em resposta ao ativismo social que tem sido extensivamente praticado por membros da Igreja. O autor defende a ideia de que a Igreja tem uma missão unicamente espiritual; e que não é recomendável aos praticantes engajarem-se em protestos e ativismos sociais. É claro que o principal papel das igrejas é oferecer suporte espiritual para os fiéis; porém isso não é tudo.  A própria ideia de querer separar o "eu-cristão" do "eu-cidadão" é não só impossível, como também anti-cristã.

Ler esse blog trouxe-me à mente uma pregação que assisti uma vez, em que o líder evangélico R. R. Soares argumentava que a igreja não tem que dar cestas básicas: "isso é trabalho do governo!", dizia; o trabalho da igreja é orar e oferecer o "pão espiritual." Pergunto-me: quão raso e quão deturpado é o entendimento de quem separa tão veementemente as coisas espirituais do mundo material? O próprio Jesus exorta seus seguidores (Lc 6:30; Mt 5:32) a doarem a quem necessita; e vai até ao extremo do desapego: "Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me." (Mt 19:21). Paulo, depois de Jesus, também coloca a caridade em evidência, retratando-a como o maior de todos os dons espirituais (1Cor 13:13).

Num contexto bíblico, afirmar que cristãos não devem envolver sua fé nos assuntos da sociedade é tanto absurdo quanto blasfêmia. No sermão da montanha, Jesus encoraja seus discípulos a espalharem-se na multidão, levando sua sabedoria (Mt 5:13-17) como luz. Jesus era revolucionário, e incitava assim seus discípulos a mudar o mundo. E, por séculos, eles ouviram esse chamado. A Igreja contribuiu muito (e ainda contribui) para promover educação e saúde em diversas comunidades carentes espalhadas mundo afora. Padres missionários foram os primeiros a decifrarem as línguas de países longínquos: graças a eles tivemos os primeiros dicionários e pudemos estabelecer contatos e entender suas culturas (ou o que restou delas após a catequese, em alguns casos). Também graças à Igreja, muito se avançou na ciência - ainda que dentro dos limites de interesse do Vaticano. E ainda que neguemos a importância disso tudo, não podemos esquecer do papel de agregador social que as igrejas vêm desempenhando ao longo dos séculos. Quantas revoluções e quantas revoltas civis não devem ter nascido às surdinas em meio a uma tranquila missa de domingo? 

Infelizmente, a mentalidade medieval que impunha as vontades e teologias controladoras do clero sobre a massa de discípulos leigos ainda persiste até hoje. Enquanto os cristãos criarem essa (inexistente) separação entre o Reino de Deus e a vida aqui e agora, não haverá volta de Jesus, nem paraíso. Enquanto eles não entenderem e seguirem a mensagem verdadeira de Jesus - que é mais clara que um céu aberto de Verão - ficarão proclamando angustiados por sua volta e desperdiçando a vida única e maravilhosa que lhes foi dada, in lieu da vazia esperança de uma eternidade de bençãos e alegrias no pós-morte. Era exatamente essa mesma visão determinista que o clero medieval - em associação com reis, imperadores e aristocratas - pregava dentre seus fiéis como mecanismo dominador para que eles aceitassem submeter-se, sem reclamação e sem revoltas, a uma vida medíocre. Jesus, o profeta revolucionário que tentava trazer o homem mais perto de Deus, transformado em um personagem passivo; um observador de braços cruzados. Um conformista. Tem algo muito errado nisso. 

Se realmente os cristãos amam seu deus e Jesus, não podem jamais deixar de lado o aspecto social. Jamais. Só assim serão verdadeiramente a luz que iluminará o mundo.


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No contexto budista, a situação é um pouco mais simples. Aqui no ocidente, o budismo floresceu já com uma postura meio revolucionária. Ser budista era uma resposta à mentalidade "quadrada" do ocidente cristão; meio que como uma parte da rebeldia da juventude dos anos 60. Engana-se quem pensa que a filosofia budista de compaixão e equanimidade (e, em especial no Zen, a ideia de "não-ação") tem alguma coisa a ver com conformismo. O ativismo budista, particularmente no Vietnã, Myanmar, Índia e Tibete é forte; e é marcado pelo ideal da "resistência passiva", bastante difundidos por mestres budistas como Thich Nhat Hahn e Dalai Lama, e por não-religiosos como Gandhi. Não é raro vermos protestos de monges budistas contra a ocupação e aculturação promovida por regimes comunistas como no Vietnã e no Tibete. (Com mais frequência do que o desejado, vemos também atos desesperados, como os casos de autoimolação. Apesar de não ferir terceiros, é um ato triste de extrema violência, e reprovado por vários mestres budistas.) 

A filosofia budista tem a interdependência dos fenômenos como um de seus pontos centrais. A interdependência inspira responsabilidade e consciência social, e daí o envolvimento em causas sócio-politicas advém naturalmente. Assim como as igrejas, os templos exercem um trabalho de assistência social importante. No trágico episódio do tsunami que assolou a costa nordeste do Japão, por exemplo, vários templos serviram como abrigos aos desalojados, que ficaram sob cuidado dos monges. 

Nas sociedades ocidentais, o papel dos templos budistas é fortemente associado à propagação das diversas manifestações culturais orientais; das artes marciais como o Tai Chi ao ensino de idiomas. E cada uma dessas manifestações é também um veículo de transmissão budista. O suporte espiritual à comunidade vem através das diversas práticas, e dependem da denominação do templo. No Zen, o principal elemento espiritual é o aperfeiçoamento individual (também, por definição, coletivo) sob assistência de um monge mais experiente que busca desenvolver no praticante as características essenciais para a manifestação da compaixão ilimitada. Na escola Zen, o principal foco é a meditação (que, aliás, é o que significa a palavra "zen"), reconhecida como sendo o elemento central para o desenvolvimento das seis perfeições aspiradas por um budista (i.e. generosidade, disciplina ética, paciência, esforço entusiástico, concentração e sabedoria). Há também o elemento da fé, trabalhado através de arquétipos (diferentemente da visão teísta), em cerimônias e elementos religiosos. O Zen reconhece que diferentes pessoas têm diferentes visões de mundo e diferentes modos de trabalhar sua espiritualidade e, por isso, oferece diferentes práticas independentes de dogmas. 

Dessa forma, os principais papéis das comunidades budistas seriam: (i) oferecer uma alternativa àqueles que buscam um caminho de desenvolvimento pessoal (ou espiritual) independente de dogmas e crenças, (ii) servir de agregador social às comunidades (particularmente de imigrantes) locais, (iii) atuar como difusor de elementos da cultura oriental.

Por fim; independentemente da religião, ter uma comunidade de prática é de importância fundamental. O caminho espiritual é estreito e difícil. É uma jornada solitária; mas é possível (e talvez fundamental) percorrê-la ao lado de outras pessoas - e isso faz toda a diferença. Servir de suporte aos amigos, especialmente quando vier aquele escorregão que todos damos; essa é a função primordial de toda comunidade religiosa e a razão de ela vir a existir. Talvez ainda mais fundamental seja perceber que a Igreja - ou a Sangha - é muito maior do que as paredes do seu templo. É muito maior que as barreiras de sua religião. É do tamanho exato do universo inteiro.

Esforcemo-nos juntos!

maio 02, 2012

गते गते पारगते पारसंगते (gate gate pāragate pārasaṃgate)




[1]

Quando eu decidi começar a estudar Zen a sério no Busshinji  (仏心寺, templo Sōtō Zen onde eu praticava no Brasil), perguntei ao  jikidō (直堂) daquele dia: "Então, estive pensando e gostaria de estudar aqui com vocês. O que eu preciso fazer pra isso?" E ele me respondeu: "Ah, venha no sábado que vem e sente com a gente de novo!" Eu, insatisfeito, perguntei de novo: "Mas, e as palestras? Quando costumam acontecer?" Ele olhou para mim e riu, dizendo: "Ah, aqui não tem isso! É só vir e sentar!" Bom, eu já havia praticado num monastério Zen (Rinzai) chinês anteriormente (Templo Zulai), e sempre tínhamos palestras depois das meditações e aos domingos! Como era possível que não tivesse algo do gênero ali no Busshinji? Fiquei desapontado.

O mestre Saikawa (abade do Busshinji) não costuma dar palestras, exceto durante os períodos de prática intensa (sesshin, 攝心). Lembro-me uma vez em que ele começou a ensinar e - num certo ponto - parou o que estava falando e disse: "Oh, eu falo demais! Por favor, perdoem-me. Não estou os treinando direito!" Isso me fez lembrar aquele momento que mencionei anteriormente e me fez rir sozinho. Naquele instante, eu entendi tudo. 

--

Nós somos acostumados a receber conhecimento de outras pessoas através de aulas ou palestras. Tem sido assim por toda nossa vida, desde a pré-escola até os pós-doutoramentos; em particular no que diz respeito à Filosofia e à Religião. E, claro, o Budismo não é exceção. Contudo, o foco é um pouco diferente no Zen. O Budismo tem vários conceitos, terminologias, teorias, cosmologias, e jeitos peculiares de expressá-los. Um dos meus favoritos é a imagem abaixo:


bhavacakra: "roda do samsara".

Essa é uma imagem comumente encontrada nas tradições tibetanas do Budismo, e também em alguns templos na Índia. É um modo bastante conciso de explicar os ensinamentos de Buda de modo abrangente e direto. Contudo, enquanto muita gente se foca no centro da imagem, o Zen aponta para o pequeno detalhe no canto superior esquerdo: a Lua. Essa Lua desenhada ali não significa nada além do que a Lua em si: é a realidade - como ela é - aqui e agora. Pode chamar isso de nirvana, iluminação, satori, Deus, etc. se quiser usar alguma terminologia específica. Todas as representações dentro da roda, no meio do desenho, representam conceitos e fenômenos que ocorrem dentro de nossa mente obscurecida e confusa, que nos impede de experimentar as coisas tal como elas são (ver a Lua); e, então, há Buda (no canto superior direito) tentando, de alguma forma, nos ajudar a fazê-lo. Todos seus ensinamentos práticos destacam a importância do momento presente, e isso é algo que temos que experimentar por nós mesmos. Da mesma forma, eu poderia gastar horas tentando explicar o quanto o bolo de laranja da minha avó é delicioso: como ele é crocante por fora, mas leve e molhadinho por dentro; doce, mas com uns toques de azedo aqui e ali (se você tiver sorte de pegar um dos pedacinhos de casca caramelizados que ela coloca na massa). Contudo, não importa o quanto eu escreva a respeito, você jamais conhecerá de fato o bolo enquanto não comê-lo. O Buda aponta para o bolo sobre a mesa. Só temos que ir até lá e comê-lo. 


No Zendô[2], cada passo é um ensinamento. Por que caminhamos com as mãos naquela postura esquisita? Por que nos sentamos com as pernas cruzadas? Por que fazemos reverência à almofada zilhões de vezes? Por que nos viramos em sentido horário? Para que existe aquela linha branca no zafu? E todas as roupas excêntricas? E os cânticos?! Cada passo, cada movimento e cada não-movimento são o ensino fundamental. Cada pequena coisa. Só conseguimos perceber isso quando abandonamos todas as nossas expectativas do que o ensinar deveria ser e o recebemos como é.

Ir além de nossas ideias, além de nossos conceitos e além de nossas mentes. Esse é o ponto fundamental: ir além, e além. E, então, mais além. Isso é sabedoria em sua forma mais pura. Isso é "iluminação". Um velho texto budista tradicional, o "ensinamento sobre a essência da grande perfeição da Sabedoria" - mais comumente conhecido como Sutra do Coração (Prajñāpāramitā Hṛdaya sūtra em Sânscrito, ou Hannya Shingyo [般若心経] em Japonês) - finaliza com a seguinte expressão:


 गते गते पारगते पारसंगते बोधि स्वाहा 
(gate gate pāragate pārasaṃgate bodhi svāhā)

significando: "vá, vá, vá além; vá mais além. Realização perfeita!" E é isso, simples assim. Não é necessário estudar e recitar páginas e páginas de velhos textos mortos para perceber isso. Sobre esse sutra, o velho mestre Rujing[3] diz:

Todo o corpo é uma boca [sino] pendurado no espaço vazio, 
independentemente do vento do leste, oeste, sul ou norte,
juntando-se ao universo ao ecoar nossa sabedoria.
Ting-ting, ting-ting, ting-ting."[4]

ao qual, mestre Dogen comenta: "todo o corpo é sabedoria. Todo o outro é sabedoria. Todo o eu é sabedoria. Todo o leste, oeste, sul e norte é sabedoria."[4]

É isso. Ecoe.




--
Notas e referências:
[1] Vide postagem anterior.



[2] Um típico zendô no ocidente. Posturas, roupas, layout. Para quê?


[3] Mestre Rujing (Jp. Nyōjo, 1162-1228) foi um monge Chinês da escola Caodong do Zen. Mestre Dogen estudou com ele na China, e trouxe seus ensinamentos para o Japão, dando origem à escola Sōtō.


[4] In: Eihei Dogen, "Treasury of the True Dharma Eye" (Shoubougenzou, 正法眼蔵). Capítulo 2: "Manifestation of Great Prajna" (摩訶般若波羅蜜). K. Tanahashi (Ed.) Shambhala: Los Angeles, 2010.

março 06, 2012

O Grande Kassapa


"Enquanto alguns se cansam ao escalar rochas,
Um herdeiro de Buda, contemplativo, senhor de si,
Fortificado por seus poderes sobrenaturais,
Kassapa sobe o arco da montanha.

Ao retornar da jornada diária por esmolas,
Ele monta novamente na pedra e se senta
No êxtase da meditação, sem a nada se ater,
Pois para longe de si mandou medos e pavores.

Ao retornar da jornada diária por esmolas,
Ele monta novamente na pedra e se senta
No êxtase da meditação, sem a nada se ater,
Pois ele, em meio ao fogo, é frio e sereno.

Ao retornar da jornada diária por esmolas,
Ele monta novamente na pedra e se senta
No êxtase da meditação, sem a nada se ater.
Sua tarefa está cumprida: de todas preocupações está liberto." [1]


--

Maha Kassapa, ou o Grande Kassapa, é o primeiro patriarca reconhecido na tradição Zen após a morte do Buda Shakyamuni. Os cânones o retratam como sendo bastante severo: foi o praticante mais austero de toda a Sangha à época; o mais dedicado ao asceticismo. Diz-se que, mesmo depois de idoso, ele preferia habitar nas montanhas à viver com os demais monges em um monastério. O verso acima foi composto quando foi questionado pelos monges o porquê, mesmo depois de velho, ele ainda subia e descia a montanha todos os dias. A resposta é direta: a prática nunca cessa.

Maha Kassapa, conhecido no Zen como Maha Kashô (摩訶迦葉) ou Daikashô (大迦葉), é reconhecido como o primeiro patriarca do Zen, devido possivelmente à sua grande ênfase na prática meditativa. Em seu primeiro encontro com Buda, ele diz a Kassapa: "Sente-se, e lhe darei a sua herança." Ao que seguem-se as seguintes exortações: [2]

"Você deve treinar-se dessa forma, Kassapa: 'Um senso aguçado de vergonha e medo de cometer o que é ruim deve estar presente em mim ao relacionar-me tanto com os mais antigos, quanto com os noviços e com os membros de status intermediário na Sangha.'

'Quaisquer ensinamentos que eu ouvir e que julgar que conduzem a algo perfeito, devo ouvi-los com o ouvido atencioso, os examinando, refletindo sobre eles, e os absorvendo com todo meu coração.'

'A contemplação do corpo, correlacionada à alegria, não devem ser negligenciadas por mim!' Dessa forma você deve treinar-se."


Buda o reconheceu como um grande discípulo. Sua transmissão é retratada frequentemente no Zen [3], [4]:

"Certa ocasião, o Honrado pelo Mundo ergueu uma flor e piscou. Kassapa sorriu. O Honrado pelo Mundo disse: 'Eu tenho o tesouro do verdadeiro Olho do Dharma; a maravilhosa Mente do Nirvana, e os transmito a Maha Kassapa."

De todos os discípulos que estavam ali presentes, apenas Maha Kassapa compreendeu o gesto de Buda. 



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Notas e referências:
[1] H. Hecker, "Maha Kassapa: Father of the Sangha". 2010. Disponível nesse site. Capítulo 9: "The Verses of Maha Kassapa".
[2] id. ibid. Capítulo 4: "How Kassapa came to the Buddha".
[3] Jokin Keizan, "The Record of Transmitting the Light" (Denkouroku, 伝光録). Capítulo 2: "Mahakasyapa". Tradução: F. D. Cook. Wisdom Publications: Los Angeles, 1996.
[4] Eihei Dogen, "Treasury of the True Dharma Eye" (Shoubougenzou, 正法眼蔵). Capítulo 57: "Face-to-face Transmission" (面授). Edição: K. Tanahashi. Shambhala: Los Angeles, 2010.

dezembro 28, 2011

O sentido do Natal


A cada ano, milhões de pessoas ao redor do mundo se juntam na noite do dia 24 de dezembro para celebrar a ceia de Natal e trocar presentes. Mas qual o verdadeiro significado dessa data?

Tradicionalmente, o Natal é a celebração do nascimento de Jesus - ainda que sua data de nascimento exata seja desconhecida - de forma que, para entender o sentido do Natal, é necessário entender o significado do Cristo. E essa definição por si só já trouxe muitas guerras por séculos e séculos: para os cristãos, Jesus é Deus, o Messias anunciado nas escrituras judaicas; para os Judeus, ele é um inimigo de Deus, que levou as pessoas para longe de Seu propósito; para o Islã, ele é um profeta, mensageiro de Deus, Messias (mas não é Deus feito Homem, como para os cristãos). Essas três ideologias (e suas derivações) têm convivido por séculos, muitas vezes em conflitos, numa perigosa mistura de interesses políticos e ideológicos.

No centro dos ensinamentos de Jesus está a crença de que o reino de Deus pode ser alcançado pelo cultivo de duas práticas principais*: (i) amar a Deus sobre todas as coisas; e (ii) amar ao próximo como a si mesmo. Dentro do contexto budista, essas práticas podem ser interpretadas, respectivamente, como o cultivo da vacuidade do ego (sunyata/anatman) e da compaixão (metta/karuna): 'amar a Deus sobre todas as coisas' é abandonar o próprio ego, não sucumbir aos desejos e não agir egoisticamente, mas pensar primeiro no todo antes de olhar os detalhes; 'amar o próximo como a si mesmo' é entender que somos todos seres humanos, e todos temos nossos medos, sonhos, desejos, defeitos e qualidades. A combinação dessas duas práticas deve levar ao desenvolvimento de uma consciência maior que, em ultima instância, levaria ao reino de Deus** (ou, como dizemos no Budismo, ao estado de Nirvana).

Então, como celebração do nascimento de Jesus, o Natal deveria ser uma época para celebrar a compaixão e a vacuidade. Uma época para deixar o ego para trás e ir atrás daquela pessoa com quem não nos damos bem e dá-lo/a um grande abraço, um sorriso e nos desculparmos por algo de ruim que possamos ter feito. É um tempo para aceitar a ação dos outros, respeitar suas escolhas e seus pensamentos, ainda que sejam diferentes de nosso ponto de vista: deixar para trás o apego a nossas ideias de certo e errado é também parte da vacuidade do ego. O Natal é também um tempo para se passar com amigos e família, mesmo com aqueles parentes de quem não gostamos muito, ou as mesmas comidas e fofocas de fim de ano. Por mais cliché que possa ser, é o momento de se abrir para dar e receber amor, espalhar caridade, ouvir àquelas pessoas que precisam desabafar suas aflições, abraçar os que precisam de um pouco de carinho e alimentar aos que têm fome. Isso é compaixão. É disso que se faz o Espírito Natalino; muito mais do que uma mesa enorme e farta de comidas deliciosas e uma árvore cheia de presentes. Então, aproveitemos essa época para nos aprofundarmos em nossas práticas, tentando arrastar esse espírito de natal pelos outros 364 dias do ano.

Feliz Natal (atrasado)!!

Abaixo, umas fotos do meu Natal aqui em terras longínquas:

Entregamos cerca de 2000 presentes vindos de todo o Japão para crianças e adultos na área afetada pelo tsunami de março de 2011, na província de Iwate.

Servindo Oden (um tipo de sopa tradicional do Japão) para os moradores das casas temporárias que o governo providenciou para os que perderam suas moradias no terremoto e tsunami de março.



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* Claro, existem vários outros ensinamentos, mas os pontos centrais são, no meu ponto de vista, resumidos nessas duas práticas. Por mais simples que possa parecer à primeira vista, essas duas definições têm vários problemas filosóficos profundos, a começar pelas definições de Deus e 'próximo'. Líderes religiosos têm discutido esses significados há milênios...

** Existem várias linhas de pensamento sobre o que significa o Reino de Deus, como acontece com o Nirvana e a Terra Pura do buda Amida. Há aqueles que o vêem como um lugar real, para onde as boas almas vão após a morte; e, no outro extremo, os que o vêem como um estado mental, acontecendo aqui e agora. Meu voto vai para o segundo.