março 06, 2012

O Grande Kassapa


"Enquanto alguns se cansam ao escalar rochas,
Um herdeiro de Buda, contemplativo, senhor de si,
Fortificado por seus poderes sobrenaturais,
Kassapa sobe o arco da montanha.

Ao retornar da jornada diária por esmolas,
Ele monta novamente na pedra e se senta
No êxtase da meditação, sem a nada se ater,
Pois para longe de si mandou medos e pavores.

Ao retornar da jornada diária por esmolas,
Ele monta novamente na pedra e se senta
No êxtase da meditação, sem a nada se ater,
Pois ele, em meio ao fogo, é frio e sereno.

Ao retornar da jornada diária por esmolas,
Ele monta novamente na pedra e se senta
No êxtase da meditação, sem a nada se ater.
Sua tarefa está cumprida: de todas preocupações está liberto." [1]


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Maha Kassapa, ou o Grande Kassapa, é o primeiro patriarca reconhecido na tradição Zen após a morte do Buda Shakyamuni. Os cânones o retratam como sendo bastante severo: foi o praticante mais austero de toda a Sangha à época; o mais dedicado ao asceticismo. Diz-se que, mesmo depois de idoso, ele preferia habitar nas montanhas à viver com os demais monges em um monastério. O verso acima foi composto quando foi questionado pelos monges o porquê, mesmo depois de velho, ele ainda subia e descia a montanha todos os dias. A resposta é direta: a prática nunca cessa.

Maha Kassapa, conhecido no Zen como Maha Kashô (摩訶迦葉) ou Daikashô (大迦葉), é reconhecido como o primeiro patriarca do Zen, devido possivelmente à sua grande ênfase na prática meditativa. Em seu primeiro encontro com Buda, ele diz a Kassapa: "Sente-se, e lhe darei a sua herança." Ao que seguem-se as seguintes exortações: [2]

"Você deve treinar-se dessa forma, Kassapa: 'Um senso aguçado de vergonha e medo de cometer o que é ruim deve estar presente em mim ao relacionar-me tanto com os mais antigos, quanto com os noviços e com os membros de status intermediário na Sangha.'

'Quaisquer ensinamentos que eu ouvir e que julgar que conduzem a algo perfeito, devo ouvi-los com o ouvido atencioso, os examinando, refletindo sobre eles, e os absorvendo com todo meu coração.'

'A contemplação do corpo, correlacionada à alegria, não devem ser negligenciadas por mim!' Dessa forma você deve treinar-se."


Buda o reconheceu como um grande discípulo. Sua transmissão é retratada frequentemente no Zen [3], [4]:

"Certa ocasião, o Honrado pelo Mundo ergueu uma flor e piscou. Kassapa sorriu. O Honrado pelo Mundo disse: 'Eu tenho o tesouro do verdadeiro Olho do Dharma; a maravilhosa Mente do Nirvana, e os transmito a Maha Kassapa."

De todos os discípulos que estavam ali presentes, apenas Maha Kassapa compreendeu o gesto de Buda. 



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Notas e referências:
[1] H. Hecker, "Maha Kassapa: Father of the Sangha". 2010. Disponível nesse site. Capítulo 9: "The Verses of Maha Kassapa".
[2] id. ibid. Capítulo 4: "How Kassapa came to the Buddha".
[3] Jokin Keizan, "The Record of Transmitting the Light" (Denkouroku, 伝光録). Capítulo 2: "Mahakasyapa". Tradução: F. D. Cook. Wisdom Publications: Los Angeles, 1996.
[4] Eihei Dogen, "Treasury of the True Dharma Eye" (Shoubougenzou, 正法眼蔵). Capítulo 57: "Face-to-face Transmission" (面授). Edição: K. Tanahashi. Shambhala: Los Angeles, 2010.

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